terça-feira, 18 de agosto de 2009

SUBIDA À SERRA DA ESTRELA 1-08-09


























































Olá pessoal amigo,aqui vos deixo a história da subida á Serra da Estrela:
Início de férias na praia de Montegordo. Calor extremo. Após completarmos a etapa da VPBTT que liga Messines a Vila Real de Santo António, a coisa começou a ficar um pouco parada e como o calor apertava, entusiasmados pelo Foto- report do Miguel e da Tânia e pelas conversas tidas com alguns amigos, começ ámos a magicar em arrefecer um pouco para os lados da Serra da Estrela. Assim , apontámos o rumo da nossa “patcholita” em direção à Covilhã, onde fizémos uma paragem para jantar, após o que nos atirámos à Serra para pernoitar em Manteigas. Recolhemos um track à pressa do Gpsies, que terminava em Manteigas mas que principiava lá em cima numa estalagem a cerca de 18 Kms sempre a subir.Faço aqui um parêntesis para esclarecer que esta reportagem se destina, como o nome sugere, a acautelar os menos avisados que, no futuro se lancem em aventuras deste género, que sejam mais prudentes do que nós fomos, se preparem melhor e sejam cautelosos em todos os aspectos, pois o perigo espreita donde menos se espera.De volta ao assunto: de manhã, acordei com o som da chuva no tecto da “patcholita”, ponderei não me levantar, mas o apelo de me lançar a pedalar pela montanha acima foi mais forte. Levantei-me, fui reparar dois furos na bike da Arquinha que tinha acabado mal a etapa da Volta, o que deu mais trabalho do que o esperado. Seria o primeiro aviso, pois como diz o ditado, o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita. Ignorei o aviso, e acordei o Major, que também estava com pouca vontade. Aliciei-o, mentindo que estava um óptimo dia para pedalar. A chuva ia pingando aleatoriamente, sem se decidir se continuava ou não. Estamos no dia 1 de Agosto e dificilmente alguém esperaria o que se avizinhava. Envergámos a roupa de verão, embora o Major, mais desconfiado, tivesse vestido 3 jerseys , uns pernitos e uns manguitos. Arrancámos pela montanha acima e até começámos a achar que subir até à Torre não iria ser muito difícil, pois para mais, as paisagens eram simplesmente daquelas que se vêem nos postais turísticos. Porreiro, o dia ia ser do melhor.Durante o percurso, encontrámos uns colegas de estrada de Alvito, que praticavam triatlo e tinham vindo treinar. Chegámos à estalagem, onde se daria o início do track, convencidos que a subida teria acabado. Nada disso. Continuámos a subir. Entretanto, a Arquinha começa a maldizer a sua Bike, que lhe fazia dores nas costas tinuámos , deixando o alcatrão e entrando num estradão cheio de calhaus e pedras, onde a progressão se tornou mais difícil, enquanto o tempo começava a piorar. A chuva adensava-se cada vez mais e o nevoeiro começou a cerrar-se cada vez mais. A Arquinha começa a lamuriar-se e eu decido consultar as vontades de todos: “atenção, estamos a 1400 metros e isto é capaz de piorar: se continuarmos, decerto que vai doer bastante.Talvez seja acertado voltar para traz, pois a descida nós fazemos num ápice”. A Arquinha hesita e eu torno a lembrar, com a ajuda do Major, que , se continuarmos, vamos ter de ser muito fortes. O Major acentua que de certeza vai piorar muito pois quanto mais alto pior.No entanto a Arquinha não desmobiliza, e nós embalamos na aventura. Ultrapassado o difícil estradão de pedra, entrámos no paredão de uma barragem, cuja água mal conseguíamos descortinar por entre o denso nevoeiro. Após a barragem, subimos por uma zona pedregosa e depois por um intransitável carreiro de cabras. A chuva aumentava, juntou-se-lhe o frio e nós já estávamos bastante ensopados. Entrámos num estradão fácil e aproveitámos para dar todo o gás para aquecer. Passados alguns quilómetros, dembocámos na estrada de alcatrão que sobe de Seia até à Torre. Chovia a cântaros, o frio aumentava e agora eram as rajadas de vento que nos dificultavam a ascensão. Chegámos à Lagoa Comprida a tiritar e a Arquinha decidiu que tinha de parar para comer uma sandes e um delicioso bolo. Eu argumentei que devíamos continuar a pedalar porque corríamos o risco de enregelar, mas ela foi peremptória: “preciso de comer, senão morro”. Após a curta paragem, reatámos a subida. Convém aqui salientar que nós não conhecíamos a Serra, não sabíamos se a Torre era perto ou longe, e que não víamos já nesta altura, um palmo à frente do nariz. Passados algumas centenas de metros, começou a cair granizo o nevoeiro era bastante espesso, o perigo aumentou porque os carros que subiam não nos viam e passavam a escassos centímetros de nós e para ajudar à festa, o vento começou a soprar fortíssimo, atirando-nos para o outro lado da estrada. Tornava-se difícil progredir. Nesta altura, eu e a Arquinha já não sentíamos os pés e tínhamos dificuldade em meter mudanças porque tínhamos os dedos gelados. O moral era extremamente baixo, comecei a pensar nos alpinistas e a dada altura a Arquinha desmoraliza por completo e começa a chorar e a dizer que íamos morrer ali. Podem rir à vontade, mas não estou a dramatizar. Foi decerto o dia mais difícil em que já pratiquei BTT. O Major, ao ouvir isto, acelera e desaparece por entre o nevoeiro. Eu também me apetecia desaparecer, mas tentei acalmar a Arquinha, sentindo no entanto que não me sentia muito melhor. Não me saía da cabeça que, ao chegar à Torre teria ainda cerca de 20 Kms de descida, em que não poderia pedalar para aquecer porque a visibilidade e o mau tempo não o permitiam e que assim ainda iria enregelar mais. Encontrámos um ciclista de estrada a descer em dificuldade para se equilibrar na bike devido às rajadas de vento. O homem deitava-se todo contra o vento para se equilibrar, entretanto este deixava repentinamente de soprar e ele dava uns zig-zags na estrada. Do nevoeiro surge o Major, com a cara toda vermelha do frio queixando-se que já não sentia os músculos da cara e dizendo-nos que já falta pouco, pois já lá tinha ido e voltou para nos encorajar. Não houve tempo para nada. Toca a descer, senão ficamos aqui enregelados.Iniciámos a descida e eu tinha dificuldade em manter o equilíbrio, pois sentia-me demasiado hirto. O Major passa por mim e toma a liderança, seguido da Arquinha, que na ânsia de se despachar dali, seguia a grande velocidade arriscando uma queda. Gritei-lhe, ela balbuciou algo que não entendi. Deixei de os ver. À entrada de uma curva apertada, vejo as duas bikes no chão numa escapatória. Não, não caíram. Dançavam que nem uns loucos á volta das bikes para tentarem aquecer-se. Segui-lhes o exemplo. Os carros passavam e olhavam para nós com uma expressão de espanto, mas nós não ligávamos. Voltámos a retomar a descida e passado algum tempo, desembocámos repentinamente ao lado da “patcholita”. A Arquinha parou, colocou a bike no chão ,começou a cambalear e a perguntar porque havíamos parado. Coitada, nem se tinha apercebido de onde estava. Quando lhe disse, abalou a balbuciar as palavras “café quente, café quente” e dirigiu-se para o café perto do local onde pernoitáramos. Ainda lhe disse que ela não levava dinheiro para o café, mas nem ligou. A senhora do café, mais tarde confidenciou-me que se assustou bastante com ela, pois nem conseguia perceber o que ela dizia e que tremia convulsivamente. Seguiu-se um banho super quente na “patcholita”, arrancada atribulada para a Covilhã e um jantar fora do comum, com um vinho tinto à mistura, carne de cabrito e muito doce para retemperar. E enquanto me lembrar do meu primeiro encontro com esta Serra, não quero lá voltar. Não esquecer que fui lá no pino do Verão exactamente para que isto não acontecesse. Não confiar.Deixo-vos as fotos possíveis.